Fontes hidrotermais da Antárctida revelam espécies desconhecidas

11-01-2012 13:41

Ana Hilário, da Universidade de Aveiro, participou neste estudo internacional

 

Além da sua “forte importância geológica”, pois encontram-se nas zonas de junção de placas tectónicas, as fontes hidrotermais são também importantes pela sua diversidade biológica. Ana Hilário, da Universidade de Aveiro (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar – CESAM), participou numa investigação que a levou a fontes hidrotermais nos fundos marinhos do East Scotia Ridge, Antárctida, no âmbito do Programa Census of Marine Life.

O estudo, que foi coordenado por Alex Rogers, professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, está agora publicado na revista «PLoS Biology».

 

 

Em conversa com o «Ciência Hoje», a investigadora explicou que “foram encontradas espécies até agora desconhecidas”, como o chamado ‘caranguejo yeti’ ou uma estrela predadora com sete braços. Foram também encontradas “combinações de espécies ainda não registadas, como a existência, no mesmo habitat, de caranguejos e percebes”.

Nas fontes hidrotermais as condições são extremas. “O fluído que sai da chaminé está 400 graus célsius e a água ao seu redor ronda os 8/12 graus”, explica. Além disso, são libertados químicos tóxicos. “A maior parte das formas de vida usa-os como fonte de energia. Dependem não da fotossíntese, mas sim da quimiossíntese”, diz a investigadora.

“Havia razões biogeográficas para querermos estudar estas fontes. Já conhecíamos o Atlântico, o Pacífico, o Índico. Faltava a conexão que seria a Antárctida”. Aqui, as fontes hidrotermais albergam  fauna completamente diferente da que se conhecia até agora.

“Não só encontramos espécies que não conhecíamos como demos conta de combinações de espécies que não tínhamos ainda registado”. A investigação envolveu três missões em três anos sucessivos – 2009, 2010 e 2011. “No primeiro foi só feita observação e nos dois seguintes recolhemos amostras. Estamos agora a fazer a descrição formal das espécies novas e tentar obter financiamento para continuar as investigações”.

O estudo engloba, além da investigadora do CESAM/UA, a única portuguesa a assinar o artigo, investigadores das universidades de Oxford, Southampton, Bristol, Newcastle e St Andrews, bem como o centro de investigação norte-americano Woods Hole Oceanographic Institution e o espanhol Institut de Ciències del Mar.

Artigo: The Discovery of New Deep-Sea Hydrothermal Vent Communities in the Southern Ocean and Implications for Biogeography

 

Fonte/Adaptado de: Ciência Hoje