Quasi-cristais ainda têm pouca aplicação prática

07-10-2011 10:43

O cientista João Rocha disse hoje que a descoberta dos quasi-cristais, que valeu a Daniel Shechtman o Nobel da Química 2011, veio alterar o conceito de matéria, mas ainda tem pouca aplicação prática.


"O que esta descoberta teve de muito importante foi que o conceito que tínhamos de matéria foi alterado. Antes tínhamos materiais amorfos e materiais cristalinos e, desde então, temos também materiais que são quase cristalinos, que não são exactamente uma coisa nem outra", disse.

Segundo o director do Laboratório Associado Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos da Universidade de Aveiro, Shechtman descobriu um material que quando bombardeado com electrões, por um lado, se comportava como cristalino mas que, por outro, dava indícios de que não podia sê-lo.

 

"Os quase-cristais são materiais que apesar de serem ordenados, como os cristais, não têm um dado arranjo geométrico de átomos que se repete periodicamente, ou seja, que se reproduz por traslação através do espaço gerando o cristal", explicou, acrescentando que isto foi "muito problemático porque era contra aquilo que era tido como uma verdade intocável".

Apesar de se tratar de "uma alteração de um paradigma muito importante nos domínios da cristalografia e da química", o investigador diz que, actualmente, a descoberta "não tem, ainda, praticamente interesse aplicado", mas “é um triunfo da curiosidade humana no seu estado mais puro", acrescentou.
Segundo João Rocha, um dos poucos casos que se conhecem é na composição de certas ligas metálicas que têm sido usadas para fazer determinado tipo de instrumentos de corte, como lâminas de barbear. "Uma lâmina é uma coisa finíssima, mas que não pode partir e o facto de ter quasi-cristais na sua constituição torna o material mais resistente", adiantou.

Na passada quarta-feira, a Academia Sueca distinguiu com o Prémio Nobel da Química 2011 o cientista israelita Daniel Shechtman pela sua descoberta de quasi-cristais. Shechtman nasceu em 1941 em Telavive e é professor emérito no Instituto de Tecnologia de Israel, em Haifa.

 

 

Fonte: Ciência Hoje