A cura para a SIDA?

16-12-2010 22:39

Transplante de medula cura paciente com SIDA

Timothy Brown, que tinha leucemia, recebeu células-tronco de um dador resistente ao HIV. O caso pode fornecer pistas sobre como vencer a luta contra a doença

 

Um norte americano de 42 anos parece ter sido o primeiro caso de cura da SIDA desde o início da epidemia que, só no ano passado, matou 1,8 milhões no mundo, segundo a OMS. Timothy Ray Brown, que além do HIV tinha leucemia, foi submetido a um transplante de medula óssea em 2007. Desde então, o americano não tem nenhum sinal de que um dia foi portador do vírus da SIDA.

“Mais de três anos após o transplante, o paciente não tem HIV no sangue e nem mesmo os anticorpos para o vírus. É como se ele nunca tivesse tido SIDA”, explicou o médico Érico Arruda, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

No transplante, realizado em 2007, Timothy recebeu células-tronco de um dador que tem uma mutação genética que o torna resistente ao vírus. Quando a medula implantada passou a funcionar e a produzir as células sanguíneas no organismo de Timothy, este passou a possuir a mesma resistência ao HIV.

“As células de defesa do dador não tinham um receptor CCR5, que permite que o HIV entre nas células. Após o transplante, o paciente passou a ter a mesma condição. Mesmo sem tomar medicação contra o HIV, o vírus não voltou. É um sinal de que provavelmente ele está curado e isso pode apontar caminhos importantes”, diz Érico.

Assessor do Ministério da Saúde, Ronaldo Hallal diz que o caso do “paciente de Berlim”, como Timothy é conhecido, “sinaliza uma possibilidade futura, mas é preciso tempo” para assegurar que houve cura. Os cientistas estão optimistas, mas lembram que a técnica não pode ser usada em massa devido a dificuldades — como ter dadores compatíveis e com a referida mutação genética que os torna imunes ao ataque do vírus, além do risco do transplante.

Notícia levou esperança a pacientes soropositivos

A possibilidade de cura da SIDA — ainda que sem prazo definido — aumentou as esperanças de portadores da doença. O activista Cazu Barroz, que convive com o HIV há 21 anos, acredita que a experiência pode significar mais um avanço para que investigadores se concentrem em encontrar não só a cura para o HIV, mas igualmente uma forma de minimizar os danos da doença.

“Li profundamente esse estudo e fiquei feliz com as conclusões, apesar de ainda serem necessários mais estudos. Esses avanços científicos fazem com que eu acredite que em 10 anos tenhamos medicamentos que possam, pelo menos, tornar a SIDA uma doença crónica”.

Há que ter em conta o risco de excesso de "entusiasmo" que pode fazer com que as pessoas banalizem a doença, negligenciando assim a prevenção, que é de momento a única arma segura contra a doença.