Cocaína explica funcionamento do cérebro

02-03-2012 13:00
Droga estimula envio de informação de centro para o exterior

 

Documentário da BBC 3 sobre o uso de cocaína no Reino Unido

 

Uma equipa de investigação francesa, do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS) e da Universidade Paris Descartes, estudou o efeito da cocaína no cérebro de ratos e descobriu um novo esquema de funcionamento. Os resultados foram publicados na revista «PLoS One». A cocaína é um estimulante psicomotor com efeitos muito poderosos e age sobre sistemas normalmente activados por sinais sensoriais naturais. É uma droga com capacidade para bloquear a recepção de neurotransmissores, como a dopamina, a noradrenalina ou a serotonina, aumentando as suas concentrações no seio da sinapse – o que leva a ampliar o sinal transmitido aos neurónios pós-sinápsicos.

 

Se por um lado, as consequências directas da cocaína no cérebro parecem estar bem compreendidas a nível da mecânica cerebral, a toma repetida desta droga leva a perturbações neuroquímicas muito complexas. É capaz de alterar o equilíbrio entre diversos neurotransmissores e perturbar os sistemas excitatórios e inibidores que desempenham um papel essencial na modulação dos processos fisiológicos e psicológicos. Estas perturbações são responsáveis para o efeito de dependência da cocaína.

Os cientistas conseguiram identificar uma relação entre o aumento da densidade dos espinhos dendríticos (locais preferenciais para contacto sináptico nos neurónios e a plasticidade neural) e a cocaína no núcleo accumbens (estrutura cerebral ligada ao prazer), um grupo de neurónios fundamental na captação de efeitos aditivos e comportamentos como o medo e a tomada de decisões. Para a experiência, bloquearam o aumento de espinhos injectando anisomicina, um inibidor da síntese de proteínas, directamente neste grupo de neurónios.

Os resultados da experiência destacam os efeitos de recompensa estimulados pela cocaína, devido à transferência de plasticidade cerebral, medida pelo aumento das espinhas dendríticas, do núcleo para o exterior. Até agora, ainda não existia uma demonstração do envio de informação do centro para o exterior, apesar do contrário já estar bem documentado.

 

Fonte/Adaptado de: Ciência Hoje