Portugueses descobrem gene regulador do desenvolvimento celular

10-02-2011 10:33

Investigadores portugueses do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), da Universidade do Porto, descobriram um gene, que baptizaram de "Viriato", que controla a proliferação de células e o desenvolvimento de tumores. O trabalho da equipa de cientistas do IBMC foi publicado na edição de 15 de Janeiro da revista científica de referência mundial «Development».

Segundo os autores, a ausência do Viriato causa problemas no crescimento dos tecidos e no desenvolvimento do organismo. Segundo Paulo Pereira, coordenador do projecto, disse ao jornal «Ciência Hoje», o estudo foi baseado nas funções do gene na mosca da fruta (Drosophila) e verificou-se que “a falta dele provoca problemas no crescimento e proliferação celular, mas, por outro lado, está envolvido no crescimento celular demasiado activado induzido pelo oncogene MYC”.

Viriato pertence a uma família de genes já identificada mas cujas funções ainda não eram conhecidas. Neste momento, a equipa está a estabelecer uma ligação oncológica e celular com o oncogene MYC – gene que contém a informação para codificar uma proteína que activa a expressão de diferentes genes. Os autores mostram que as moscas com deficiência de Viriato apresentam um claro atraso no desenvolvimento.

Sabe-se que a expressão descontrolada do gene MYC está associada ao desenvolvimento de inúmeros tumores, em que a observação de alterações no nucléolo, uma sub-estrutura celular, indica, geralmente, um mau prognóstico. A relação: MYC activa o gene Viriato, que por sua vez actua no nucléolo, promovendo um crescimento descontrolado das células.

Nas células, o nucléolo é onde se constroem os ribossomas, as fábricas para a síntese de proteínas. “Os ribossomas participam no controlo de todos os aspectos da vida das células, e em particular na capacidade intrínseca da célula para crescer e proliferar”, afirma a autora Joana Marinho, que refere também que “é necessário agora aprofundar como a dupla de genes, MYC e Viriato, actua na regulação dos ribossomas”. Ao clarificar esta questão, os investigadores esperam perceber como ocorre a proliferação excessiva das células tumorais.

Figura:

A expressão anormal do oncogene MYC estimula o crescimento nuclear e celular (à esquerda). Sem viriato, MYC não é eficiente na estimulação de crescimento nuclear e celular (à direita).

Paulo Pereira avançou ainda que “o próximo passo será “realizar o estudo em células humanas e compará-las com o perfil normal e tumoral” e, assim, “verificar se existem alterações na sua expressão”. Resta “determinar até que ponto os tumores com alterações na estrutura do nucléolo apresentam níveis desregulados de Viriato, e de que forma alterações na função de Viriato poderão estar associadas ao desenvolvimento tumoral”, concluiu.

 

Fonte: Ciência Hoje